A superlotação da Maternidade Escola Januário Cicco (MEJC), infelizmente, já faz parte do cotidiano dos profissionais que trabalham na unidade referência estadual no atendimento de média e alta complexidade, que são os partos de alto risco.
Com a ineficiência e irregularidade do funcionamento das maternidades municipais e a falta de assistência obstétrica nos hospitais regionais, de responsabilidade do Governo do Estado, a demanda recai toda sobre a Maternidade Januário Cicco, bem como para o Centro Obstétrico do Hospital Doutor José Pedro Bezerra, conhecido como Hospital Santa Catarina.
Na manhã de ontem (4), a situação estava crítica. Com capacidade para 92 leitos, a maternidade estava com 120 mulheres internadas, sendo o excedente de 28 em leitos improvisados nos corredores, em macas e cadeiras. Além disso, das duas salas de centro cirúrgico, uma está interditada com quatro recém-nascidos que necessitam de um leito de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Neonatal. Ao todo, a maternidade dispõe de 20 leitos de UTI Neonatal, mas, hoje, tinham 29 bebês precisando de cuidados especiais, sendo nove em leitos improvisados, tanto no centro cirúrgico, quanto na sala destinada as mulheres pós-parto, que é o Centro de Recuperação de Operados (CRO).
A diretora médica da Maternidade Januário Cicco, Maria da Guia Medeiros, disse que desde a última segunda-feira (1), a situação é a mesma. “Das duas salas que fazemos as cesáreas, uma está interditada servindo de UTI para quatro bebês. Hoje só temos uma sala funcionando. Então, se são realizados dez partos cesáreos em duas salas, teremos que realizá-los em apenas uma sala, mas um parto cesáreo dura, em média, duas horas desde a entrada de uma paciente até a saída dela. Se chegar uma emergência, onde vamos colocar?”, indagou a diretora. “Se chegar mais bebês, vamos ser obrigados a interditar a outra sala de cirurgia e não realizaremos mais cesáreas. E se chegar uma cesárea, onde fazemos?”.
Maria da Guia Medeiros disse que entrou em contato com o secretário adjunto de Saúde do Estado, Marcelo Bessa, para que os seis leitos de UTI Neonatal que estão prontos e encontram-se fechados no Hospital da Polícia Militar possam ser reabertos, mas o adjunto ficou de dar uma resposta até a tarde de hoje. “Estou com esperança de que ele diga que dá para abrir amanhã. Então, transferimos esses bebês para a UTI de lá e liberamos a sala de cirurgia. É a única alternativa que temos. Hoje, os bebês estão em uma sala improvisada que está funcionando como UTI. Uma sala de UTI segue uma norma do Ministério da Saúde, através da Portaria 930 que regula o que precisa ter dentro de uma UTI. Hoje, nem profissional temos para dar esse suporte”, destacou. Além da MEJC, o Hospital Santa Catarina e a Maternidade Divino Amor, em Parnamirim, também tem leitos de UTI, mas estão lotados.
Nos corredores, são aproximadamente 28 mulheres internadas, fora a sala de parto que na manhã de hoje tinham 14 mulheres em um espaço que comporta apenas seis mulheres. “Hoje, nosso problema é no Centro Obstétrico que tem oito mulheres a mais que a capacidade, o setor de alto risco que tem dez pacientes nos corredores, nas demais enfermarias tem uma média de seis pacientes e no Centro cirúrgico com nove bebês.”
Esta semana, a diretora médica da Maternidade, Maria da Guia Medeiros, fez um levantamento em 104 prontuários e, observando a data da última menstruação e aquelas que não sabiam a data da menstruação e tinham ultrassonografia, e percebeu que a maternidade vem atendendo uma grande demanda de partos normais, que poderiam ser realizados nas maternidades do Município. Pelo levantamento, 10,5% das mulheres estavam entre 41 e 42 semanas e 34,5% entre 40 e 37 semanas de gestação, sendo estes dois casos de baixa complexidade. Entre 36 e 26 semanas, o percentual era de 50% das mulheres e entre 25 e 24 semanas, 4,7% das mulheres, as únicas duas que se encaixariam dentro do perfil de atendimento da maternidade. Pois só a MEJC e o Hospital Santa Catarina recebem mulheres abaixo de 36 semanas de gestação.
Até as 9h da manhã já tinham sido realizado quatro partos, sendo três de baixa complexidade, e apenas um de alto risco. Dos quatro, três eram de municípios da Região Metropolitana de Natal e apenas um de Natal. “Elas vêm direto pra cá, porque sabe que atendemos. Somos o único que atendemos de porta aberta”, destacou.
Fonte : Jornal de Hoje